Centenário do Incêndio do Primeiro Goetheanum
No dia 01 de Janeiro de 2023 fez 100 anos da queima do Primeiro Goetheanum. Esta dolorosa e irremediável perda para os antroposófos e o mundo, foi lembrada em todo universo antroposófico: escolas, hospitais, fazendas, dentre outros, através de workshops, palestras e reuniões. Veremos a seguir um breve histórico de todo encadeamento dos fatos que culminou nesta terrível tragédia.
Em 1899 Rudolf Steiner publicou um artigo no Magazine de Literatura intitulado “A Revelação Secreta de Goethe!”, sobre a natureza esotérica do conto “A Serpente verde a bela Líria”. Este artigo levou a um convite para falar na Biblioteca Esotérica da Sociedade Teosófica na casa do Conde e Condessa Brockdorff sobre o Friedrich Nietzsch do qual ele era profundo conhecedor. Sua segunda palestra foi sobre o conto “A serpente verde e a bela líria” que segundo ele foi a sua primeira palestra totalmente esotérica. A partir daí tornou-se um frequente palestrante para os teósofos. Em 1902 foi fundada a Seção alemã da Sociedade Teosófica e Rudolf Steiner eleito secretário geral e a Maria Steiner como sua secretária.
O Congresso da Federação das Seções Européias da Sociedade Teosófica em Munique foi realizado em Pentecostes de 18 a 21 de Maio de 1907. Com sua sala de conferências artisticamente decoradas, Steiner confrontou os teósofos orientados para a espiritualidade oriental, na qual as artes plásticas e os conteúdos do cristianismo e a ciência e filosofia europeia tinham pouca importância. Completando a parte artística, foi encenada uma peça de teatro de fundo esotérico: “O drama sagrado de Elêusis” de Edouard Schuré. Com sua erudição do complexo cosmo espiritual, Rudolf Steiner surgiu como uma liderança inconteste. Como resultado do Congresso entre os seus discípulos, surgiu o desejo de um “Templo para as palavras do Rudolf Steiner” liderada pela incansável antropósofa de Munique, Sophia Stinde, que encabeçou uma comissão para arrecadação de fundos para tornar isto realidade.
Foi comprado um terreno em Munique e providenciado projetos e maquetes para construção de um edifício central com uma cúpula dupla para o teatro, a menor imbricada na maior, replicando assim a configuração dos dolmens onde fazia-se o trabalho de mistério dos Druidas. Ao lado do teatro haveria prédios com alojamentos para os membros. Foi negada a autorização para a construção do que seria o Johannesbau ou casa de João, homenageando “Johannes Tomasius” importante personagem dos chamados Dramas de Mistérios do Rudolf Steiner.
No Congresso de Viena de 1907, Rudolf Steiner surgiu como uma liderança inconteste com sua erudição do complexo cosmo espiritual. Surgiram problemas com as palestras dele, principalmente de 1909 em diante onde ele enfatiza suas pesquisas sobre o Cristianismo .A hostilidade de Anne Bessant e outros teósofos com Rudolf Steiner já sinalizava para uma ruptura abrupta e irremediável e ela veio quando no seio teosófico foi criada, em 1910, a Ordem da Estrela do Oriente que visava apresentar Krishnamurti como o Buda Maytréia, o Instrutor do Mundo no Oriente e o Cristo revivido no Ocidente. Ora Rudolf Steiner sabia que Cristo, o grande Ser Solar, usando a roupagem física de Jesus, encarnou uma só vez. O Cristo voltaria mas na atmosfera etérica da Terra em 1933. Por causa disto, Rudolf Steiner se retirou da Sociedade Teosófica no final de 1912 e em 1913 fundou a Sociedade Antroposófica.
Um antropósofo eminente, o dentista Dr. Emil Grosheinstz, doou um terreno em Dornach, perto da Basiléia na Suiça e em 1912 começou-se a construir o JoannesBau, posteriormente chamado do Primeiro Goetheanum, em homenagem ao grande escritor, filósofo, poeta e cientista: Goethe. Todo Primeiro Goetheanum foi desenvolvido através da ideia da Metamorfose do Goethe. A construção do Goetheanum iniciou-se en 20 de setembro 1913 e foi inaugurado em 26 de setembro de 1920. Nele trabalharam 17 nacionalidades diferentes na época da Primeira Guerra Mundial em total acordo. O prédio de madeira é colocado sobre uma base de cimento e duas cúpulas de ardósia da Noruega, uma menor que a outra. As peças de madeira foram trabalhadas manualmente por várias pessoas. Era um trabalho que falava aos olhos as profundas verdades espirituais da humanidade. O edifício era uma jóia preciosa infinitamente belo, cinzelado peça a peça pelos mais variados membros da comunidade.
Havia ameaças ao edifício tanto dos nazistas quanto dos cristãos e acabou acontecendo o incêndio criminoso do Goetheanum que começou durante a noite do dia 31 de Dezembro de 1922 para o dia 1 de Janeiro de 1923. O prédio como era de se esperar foi totalmente destruído pelo fogo apesar dos esforços da pequena brigada do fogo do Goetheanum e os bombeiros da Basiléia. Foi possível salvar pequenos móveis, vestuários e objetos, além da preciosíssima e insubstituível escultura do Grupo ou o Representante da Humanidade. Não foi achado um culpado para tal ato.
No dia 1 de Janeiro de 1923, Rudolf Steiner deu o aviso de que tudo continuaria como estava previsto no programa e que as apresentações seriam feitas na marcenaria que tinha sido salva do incêndio. Dizem os presentes que deste dia em diante o Rudolf Steiner perdeu a sua pujante vitalidade e rapidez no andar apesar de que nunca antes tenha sido tão produtivo.
Sydney Lafetá – Professor, Artista Plástico e Aconselhador Biográfico