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Festa da Páscoa

A Páscoa é uma festa chamada móvel, fixada a cada ano pelo cálculo da posição de uma constelação, está relacionado, com os sentimentos mais profundos da alma humana e, com os mistérios cósmicos.
O que há de mais essencial no conteúdo da festa da Páscoa? O que há de mais essencial nisso é: que o Ser que está no centro da consciência cristã, Cristo Jesus, passou pela morte; na Sexta-Feira Santa, descansou na sepultura durante o período de três dias; isso representa a união de Cristo com a existência terrena. O período entre a Sexta-feira Santa e o Domingo de Páscoa é considerado pelos cristãos como uma festa solene de luto. Então o Domingo de Páscoa é o dia em que a figura central de toda a cristandade ressuscitou do túmulo, o dia em que este facto é lembrado.

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O conteúdo essencial da festa da Páscoa é: a morte, o sepultamento, o repouso no túmulo e a ressurreição de Cristo Jesus.
A Festa da Páscoa é a festa da ressurreição, mas aponta para tempos ainda anteriores ao Cristianismo. Aponta para festa pagã, que tinham a sua origem nos Mistérios de Adônis, o protótipo espiritual de todas as forças juvenis em crescimento, de toda a beleza do homem, ligadas ao período do equinócio da Primavera, festa que estava associada ao renascimento da vida na terra.
Com cantos tristes e cerimônias que expressam a mais profunda dor e angústia humana, a imagem divina de Adônis, era afundada sob as ondas do mar, onde permanecia por três dias; ou um tanque artificial construído e colocado. Durante estes três dias, profundo silêncio e tristeza toda a comunidade era tomada, por aqueles que seguiam esta religião. Quando os três dias terminaram, a imagem era levantada novamente da água. As canções de tristeza eram transformadas em canções de alegria, em hinos sobre o deus ressuscitado, o deus que voltou à vida.
Nos antigos a Centros de Mistérios, a iniciação ocorria com a condução para uma câmara especial, com as paredes pretas; toda a sala, onde havia um caixão e o espaço era escuro e sombrio.
O aspirante à iniciação era então colocado no caixão por aqueles que o conduziram até lá com cantos fúnebres solenes, e era tratado como alguém prestes a morrer e ficava durante os três dias seguintes. Os arranjos foram realizados de tal maneira que aquele que estava sendo iniciado alcançasse plena compreensão interior do que um homem vivencia nos primeiros três dias após a morte, sendo no terceiro dia, num lugar específico, surgia diante dos olhos, daquele que estava no caixão, um ramo brotando representando a vida nascente. As antigas canções de tristeza transformaram-se em hinos de alegria. O neófito, que havia experimentado tudo isso, ressuscitou da sepultura com uma consciência alterada. Uma nova linguagem lhe foi comunicada e uma nova escrita: a linguagem e a escrita do espírito.
Reflexão para a época da Páscoa: O que preciso deixar morrer para renascer?
Quando a vida chega ao fim, o coração humano e a alma daqueles que permanecem, fica com uma profunda tristeza. E para que toda a seriedade da passagem pelos portões da morte surja diante de nossa alma, e não apenas experimentamos a morte terrena, quando ela chegar, mas para que seja lembrada dela a cada ano, a Meditação na Páscoa se faz presente.
Na existência terrena, experimentamos coisas de natureza, coisas temporais, com a morte e a retirada da terra, a vida continuará nos amplos espaços do éter universal, em uma vida atemporal. Durante os três dias, após a morte, vamos expandir até os confins do universo, os olhos terrenos se dirigem para a imagem da morte, para aquilo que é mortal, perecível, temporal, depois de três dias, a alma ressuscita; nasce de novo na terra do espírito.
O que naquela época formava o conteúdo vivo da consciência humana tornou-se gradualmente na recordação do acontecimento histórico do Gólgota e perdemos cada vez mais a consciência de Cristo como um Ser Solar, encarnado no corpo de Jesus, vivenciando a morte terrena.

Os adeptos da sabedoria dos Mistérios não poderiam ter qualquer incerteza quanto à natureza de Cristo. Eles sabiam bem que os verdadeiros Iniciados, aqueles que foram iniciados e, portanto, se libertaram de seus corpos físicos e experimentaram a morte em suas almas, subiram até a esfera do Sol, e que lá encontraram o Cristo e suas almas receberam o impulso para a ressurreição; eles sabiam quem era o Cristo, porque se elevaram até Ele. Esses antigos Iniciados, que compreenderam o que acontecia durante a iniciação, sabiam, pelo que aconteceu no Gólgota, que o mesmo Ser que antes devia ser procurado no Sol havia agora descido aos homens na Terra. Como eles sabiam disso? Porque os procedimentos nos Mistérios, realizados pelo neófito para que ele pudesse ressuscitar a Cristo no sol, não podiam mais ser realizados da mesma maneira que antes, pela simples razão de que a natureza humana se tornou diferente com o passar do tempo. A antiga cerimônia de iniciação tornou-se impossível devido à forma como o ser do homem evoluiu. O Cristo não poderia mais ser procurado no Sol segundo os métodos da antiga iniciação. Ele, portanto, desceu à terra para realizar um feito através do qual os homens pudessem agora encontrá-lo. Aquilo que está contido neste Mistério pertence às coisas mais sagradas de que se pode falar na terra.
Agora era visto no plano externo da história o que anteriormente havia sido encenado em profundidade interior, nos recintos sagrados dos Mistérios; o que antes era apenas para os Iniciados, agora estava lá para toda a humanidade ver. Já não era necessária uma imagem que tivesse de ser afundada simbolicamente no mar e dele erguida novamente, como era feita com a imagem de Adônis. Em vez disso, os homens deveriam ter a memória do que realmente aconteceu no Gólgota. Em vez do símbolo exterior ligado a um evento que foi experiência no espaço, surgiriam pensamentos interiores, intangíveis e sem forma – pensamentos que viviam apenas na alma, pensamentos sobre o feito histórico realizado no Gólgota.
Nos séculos que se seguiram, tomamos consciência de um desenvolvimento extraordinário na humanidade. A penetração da humanidade no que era espiritual diminuiu cada vez mais. O conteúdo espiritual do Mistério do Gólgota já não encontrava lugar nas almas dos homens. A evolução tendeu para uma inteligência materialista, perdemos a compreensão emocional interior de coisas como, por exemplo, que onde a qualidade transitória da Natureza externa é revelada – no momento em que a vida da Natureza é vista como mais desolada e como se estivesse morrendo – é exatamente o momento em que o a vitalidade do espírito se torna mais aparente. A humanidade também perdeu a compreensão de que a morte às coisas exteriores da Natureza, é o momento em que é mais fácil perceber que a morte de todas essas coisas está ligada com a ressurreição do que é espiritual.
Assim as coisas permaneceram até os nossos dias; os homens precisavam do apoio da natureza externa. Mas a natureza externa não fornece nenhuma imagem — nenhuma imagem completa do destino do homem após a morte. Os pensamentos sobre a morte persistiram, os pensamentos sobre a ressurreição desapareceram cada vez mais. Mesmo que as pessoas falassem da ressurreição como parte da sua crença, ela não era um facto vital na vida dos homens de tempos posteriores. Mas deve ser a perspectiva da Antroposofia a meditação na Páscoa, estimular a mente dos homens a pensamentos verdadeiros a respeito da ressurreição.
A Antroposofia servirá quando as pessoas perceberem como os velhos pensamentos dos Mistérios podem sobreviver em pensamentos corretamente concebidos sobre a Páscoa; quando tiverem adquirido uma compreensão correta do corpo, da alma e do espírito do homem, e do destino destes nos mundos físicos, psíquicos e espirituais.

Angélica Justo – Médica Antroposófica e Aconselhadora Biográfica – Escola Livre-Antroposofia-Formação e Estudos Biográficos-JF-MG.

Fonte: https://rsarchive.org/Lectures/GA233/

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